terça-feira, 30 de agosto de 2011

Charlotte.


Menina de boca redonda não ama.
Vive a morder o lábio, em protesto.
Nos passam, sensação de calafrio com o olhar.
E abraçam nossas pernas, sem querer nos deixar.
Ficam belas de batom. Magnificas donas de sola suja,
andando de dedo erguido, a procura de direção.
Menina de boca redonda enlaça nosso pescoço.
Posa como musa em nossos quadros, mas descartam retratos.
Sempre dotadas de bela voz, sobrancelhas grossas, e dedos...
Novamente os pés, magros, sempre secos, sujos, imundos.
Menina de boca redonda, não vive em redoma.
Diz o que pensa, nos caça com o olhar e são donas...
São donas do destino, por isso vivem a vagar, sempre descalças
pois sabem onde tudo irá acabar.

sábado, 27 de agosto de 2011

“... Que eu gosto, e é só meu...!”

Se vai viajar, então vem pra Bahia. Provar um tantinho de amor baiano, um carinho baiano, e o gosto, é tão gostoso e só tem na Bahia. Tudo é céu azul, música ao pé do ouvido, e mulher, muita mulher para todos os lados. Eu gosto das baianas. Um tipão de mulher, de pele de sol, um tanto brilhosa e que quando passa deixa aquele cheirinho. Ai uma baiana, que falta faz, quando nos deixam. Que falta dessas mãos curiosas e essas curvas, iguais às ruas de Santa Cruz. Vai, diz a ela pra não maltratar tanto assim um admirador. Baiana fala, não pensa, e quando não nos querem mais, é um chororô nosso, sem fim. Uma noite apenas não dá, são insaciáveis, e o coração um lar. Elas não se viram não, encaram com olhos vertiginosos, sem medo e respeito, essas mulheres nos deixam mal. E assim que colocar o pé no Bonfim espere uma descer a ladeira, lá vem à baiana, quebrando as cadeiras, dando um nó no nosso mnhum – mnhum, mnhum – mnhum... Quando encontrar uma baiana você tem que sorrir, elas adoram se sentir o centro de todas as atenções, como se pudesse ser diferente, se você já viu uma baiana sabe do que e digo. Mas aguente firme no olhar, com mulher de dendê tem que ser firme, se não ela faz o que bem quer. E as convide para sair, faça gostos, cumpra uma única promessa e se amarre, com essa lhe digo que é possível. Uma baiana cuida, espera você chegar e quando zanga... Desculpa sim! E pelo que vejo vai fazer como eu, desistir de voltar e ficar, porque na Bahia é possível sim. E vai morar em uma rua, que fica entre duas, próximo a uma ladeira, um lava a jato, uma oficina na esquina, uma pracinha, vários armarinhos e comprar pão lá em cima ou um acarajé sem salada. Vai fazer logo amizades, e por onde passar ouvir um “Vá com Deus” ou “Deus que te acompanhe, meu filho” como se fossem tão diferentes assim, um do outro. Na sexta vai saber que o trabalho acaba, e vai acordar cedo no sábado, correr para o “campinho” mais próximo, bater um baba, quando acabar, rindo muito dos três gols que deu no careca, porque você é jogador e só não tá na seleção por um probleminha no joelho, vai beber com a galera uma skol porque preferimos uma skol gelada à uma schin, e depois correr para casa, tirar o barro no lado de fora, porque a mulher odeia a areia que você sempre deixa no banheiro, e esperar o almoço, mas te pedem para subir e comprar uma cabeça de alho, depois um limão e a pimenta? Sem pimenta não tem comida, não tem tempero, não tem gosto. Acaba o almoço você dá uma passadinha no bar, jogar uma partidinha de sinuca e lamenta a notícia de uma chacina em um bairro longe, mas que você já passou, passou sim, daquela vez que você perdeu o ponto de tanto cansaço e dormiu mesmo, foi acordado bem longe do seu destino, lembra? Acho que foi em Missurunga, ou Cosme de Farias, talvez tenham dito Arenoso, você não dá muita atenção porque o Trio Ternura está passando, e tem sempre o novato que pergunta quem são, mas você deixa outro explicar, perder a atenção não, que aquelas são as meninas do fim da rua, que não se largam e rebolam tanto com aqueles shortinhos tão curtos, mas sempre tem a que usa saia, e agente gosta... mnhum – mnhum. Elas nos deixam com vontade de gritar um ôba – salve a Bahia! – quando as três rosas entram em seu beco, pronto, acabo e é bom ligarem logo a TV pra ver o Bavi, só louco vai perder essa. Hoje meu time ganha e um grita “Bora meu Bahia!” outro “ Nêêgo! Nêêgo!” Dá empate, e isso é uma lá-ela , os tricolor jogando na cara dos rubro-negro que tem estrela, e os rubro-negro com a frase “ Quem vive de passado é museu”. E eu Santos doente, não deixo nenhum dos dois saber. Incomoda, não vamos nos iludir, mas xô voltar pra casa, porque já deu a hora e não troco minha nega por marmanjo nenhum. Um choro de criança, um contar de esconde-esconde, e fechando o portão escuto Junior gritar “um, dois, três, salve todos!” o muleque acabou a brincadeira.
E como são boas as chegadas, porque eu a abraço, e recebo suas tapas me sentindo sortudo, minha roupa de domingo já esta passada. Uma baiana é uma mulher, e você encontra tudo entre seus braços, e perde..., quase tudo, entre as suas pernas. Que bom que as noites chegam cedo nessa terra, e que as noites quentes são tão cheias de seios e cochas tudo em um corpo que sempre caí em mim. E que as noite frias, são tão cheias de cobertas, que nos cobrem, nos aquecem e nos escondem, escondem nossos pecados da noite, fria ou quente, é sempre bom se minha preta estiver ao meu lado.
E o domingo chega, com aparência deserta e silenciosa, todos encontram compromisso, e á festa em todos os quintais de todas as casas. Peça licença onde passar, em todas as esquinas peça licença, agradeça e receba de bom agrado o carurú, oferecido ou não, é carurú e baiano que é baiano não rejeita. Peça proteção ao sair, agradeça pela volta, e não se esqueça que a Bahia é uma terra de santo e santos, de um Deus e natureza, tudo existe na Bahia, peça passagem. Sua arrumação já se foi depois do almoço, e se a calça esta apertada liberte a barriga, descanse. Uma sesta é sempre bem vinda depois do almoço, e fique de olho, mesmo do ponto mais baixo observe sua morena, veja quem se aproxima dela, cuide do que é seu. Ainda mais que começou um samba e ela entrou, e meche e como remexe, bulindo com a moçada, me deixando louco. Muitos assobios e batuques, até palmas, e ela sorriu, que baiana não gosta de elogios, ainda mais para seu balançado? A minha eu conheço e ela também me conhece, não mostra pra quem tá de perto, mas olha de lá pra mim, manda até beijo, e de lábio grosso, mas pra cima de mim? Dei adeus para todos, e fui para casa. E abri as janelas, obrigando o cheiro a visitar as narigas vizinhas e solteiras.
- Que morram de inveja. – puxei aquela que enchia minha boca d’água.
- De quê? – ela veio com aquele seu jeitinho pidão de elogios.
- De mim por ter você. – olhei aquela imagem de Nossa Senhora Aparecida em seu colar, e que ela me perdoasse, mas eu iria é pecar com sua filha.
Lhe digo que é fácil gostar de uma baiana, a minha gostei logo de primeira, rápido como cachorro em feira. Agora me diz, dai do outro lado, de onde você está, dá pra sentir o cheiro do feijão? Todas as mulheres deixam pra tomar as ruas da Bahia com um bom cheiro de feijão, em todos os domingos, o feijão da semana. E um, muito do ousado, deixa pra passar gritando na nossa janela, logo pra minha preta, que vasculha a panela, “Chêro viu!”. E ela se meche, lisonja e como é bom, bom demais essa minha Bahia, cheinha de baianas iguais ás minhas. Baianas apaixonantes...