sábado, 30 de outubro de 2010

O adeus de Benito...

É uma cena triste, uma cena perceguidora.
Uma avó, um pai, amigos, flores, ela, o cachão e eu.
Estão cantando pra ela, chorando sobre ela,
Ninando o meu amor.
Uma filha, uma neta, um bem.

Um tiro, sangue...
O meu coração sangrando,
eu tentando tampar, recolher aquele
liquido quente, pegajoso...
Mas ele foje, ele escorre, ele escorre!!!

Raiva, como ela pode me deixar?
Agora ela não vai acordar, não vai
rir de mim, ter pena de mim.

Silêncio.
O meu amor quer dormir.

Parece tão cansada, tão fria.
Sinto vontade, meus braços tem vontade.
Querem carregar, enlaçar e esquentar,
aquele corpo, de um negro acinzentado.

Silêncio!
O meu amor quer dormir.

Os amigos relembrar, suas musicas favoritas.
Seus parentes, suas travessuras.
E eu? O que relembrar?
Ela levou tudo, até sua imagem.
Como vou aguentar deixar ela sozinha?
Deixar que joguem terra sobre ela.
E se ela acordar? E se ela chorar?
Eu não vou escutar. Não vou estar lá.

Silêncio!
O meu amor quer dormir.

Ela não vai acordar.
Não vai rir de tudo isso.
Não vai pular sobre mim, como uma louca.
E meus dedos choram. Com saudade dos seus cabelos.
Eu choro... Todo.
Então me junto ao coro.

"...Só eu velo
Por você, meu bem
Dorme anjo
O boi pega Neném;
Lá no céu
Deixam de cantar,
Os anjinhos,
Foram se deitar,
Mamãezinha
Precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai lhe ninar:
Boi, boi, boi,
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta..."

Silêncio!
O meu amor dorme.

Trecho do livro Tudo Fica no Pelô.

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