quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Ain't Got No...I've Got Life"

Mirian,
Olhei o casal daqui da frente discutindo, (uma coisa feia).
Gritaria, tapas estalados, suplicas, baixou até a PM (uma coisa horrível).
Então sinto que devo falar sobre você.
Devo ser sincero?
Esse nunca foi meu forte, sou repórter, sou sim, mas também andamos em devaneio com a omissão (peço desculpas), essa não é minha intenção e devo me manter focado em dizer: - Você é uma péssima cantora.
Por favor, não me venha com grosserias, fique calada! Será que não escuta sua voz? Você é fanha e às vezes, no finzinho das palavras sai ciciando em um eterno, sem fim.
Rouba meu celular, minha agenda, meus pensamentos e fica vasculhando tomando posse do que já é seu.
Come tanto e depois se diz gorda, e sempre vem aquele olhar surpreso, aquele ‘engole barriga’, um disfarce que me curva os beiços. E discutir com você? É uma alucinação eufórica, porque você sempre perde, mas sempre ganha. É impossível, (sim, eu repito) É impossível ganhar de você, mesmo ganhando. Você quer saber o por quê?
Porque você se encolhe e vem se chegando como um filho que acabado de receber uma surra do pai e corri para seus braços. Um momento de contradição, que enche um peito. E você abaixa as vistas, e olhando baixo dá a volta na casa, procurando um argumento que não conhece, uma palavra difícil que ao ser dito por você ganharia um tom trovador. Mas você não conhece, porque é uma moça preguiçosa e odiadora de ‘palavras escritas’ (adorei quando te escutei falar isso). Mas isso é quando você perde, então prefiro te deixar ganhar (não, melhor, você ganha porque é melhor do que eu) Você enche a cara de felicidade, joga a cabeça para trás gritando vitória, e depois de levantar os braços e girar, pular, como uma maluca, aponta para mim e faz ecoar um
“Looooser!”
Que para o meu tempo.
Eu acho que tá aí o ódio da minha mãe, você é péssima, mal-educada, temperamental e quando chega nos cantos leva os seus costumes caseiros. Estende os pés nas mesas de centro, coloca a mão na boca e... Ah! O melhor. Enche o prato de salada, e come apenas a carne.
E ainda tem cara para dizer que ‘ama’ uma saladinha, come todo dia e não vive sem.
Aiiii Mirian, quando sua mãe te fez estava bêbada. Você é a personificação do caos e quando volto para casa, eu, já dá entrada escuto o som alto, o cheiro de pudim e empurro de leve a porta para te encontra ajoelhada sobre suas telas, com dedos sujos de tinta, fazendo mais um retrato meu. E vendo mais um reflexo de minha feiura você se vira, e se levanta, se aproxima e sorrindo boba como só você é, cantarola Nina Simone em meu ouvido e faz tudo valer a pena.
Porque eu estou apaixonado por você, e já se passaram tantos anos e você continua igual.
Mimada, fanhosa e turrona.
Nada é bom o suficiente, ninguém é confiável e meus amigos só servem para extorqui meu dinheiro por eu ser ‘bom demais’, para todos, menos para você (isso deixa claro em todas as nossas discursões) E é surpreendente como me conserta em tudo, na hora de comer, na hora de dormir, na hora de ver sua mãe. Mas você nunca está pronta para correções, você não.
Você Mirian é perfeita.
Você é a realidade e me mostrou desde o primeiro dia em que lhe vi. Em sua vida tudo é muito pensado, nunca se arrepende. E fico feliz por ser mais uma de suas escolhas, por me deixar fazer parte do seu circo. Nem parece que faz tanto anos, que já somos avós, mas sempre que volto para casa, eu, já dá entrada, aceito a falta de regras, a abundância de amor e a loucura sempre tão jovial. Então é por isso que nunca briguei com você, e aceitei você assim, recolhendo os pedacinhos que caiam de você ao longo de nossa jornada, me deixando conhecê-la, mas não entendê-la.
Porque só uma moça como você ousa me amar e vê solução em meus erros. Porque eu me dei a oportunidade de amar sem nem procurar receber o mesmo.
Obrigada Mirian, por murmurar ao anoitecer, bem baixinho, num fio de voz, que me ama, que já me amou e um dia vai me amar.

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