sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mãos de Criança.

Meus pais me pediram para cantar.
Então segui até o meio da sala e peguei o microfone.
Comum como sempre.
Sorri para papai no início da música. Ele ligou a câmera.
Comecei a cantar, e o vi distanciar o olho da câmera e me encarar.
Meu coração batia como o começo: rápido, doido. Só que agora eu o percebia.
Mas desviei a atenção e olhei para a janela; para o piso de madeira; para Rose e o produtor.
Desafinei muito, mas mamãe sorria e achei que ia bem.
Papai chamava minha atenção, na parte mais aguda, minha garganta ralou como pele no cimento.
Tentei me manter séria, mas papai me encarava, e meu coração...
Às vezes me lembro tanto desse dia.
Nada de especial, um ensaio como tantos outros.
Mas às vezes papai me passava tanta angustia. Parecia querer ter vivido algo parecido. Às vezes parecia ter vivido através de mim.
A música acabando. Sorri de lado, um sorriso de dois dígitos e a luzinha vermelha da câmera foi apagada junto com o olhar de papai.

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