quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Qual o meu nome?

Eu saí de casa, cara. Não tenho dinheiro para nada, minhas roupas não duram três dias e não tenho para onde ir. Eu deixei para trás uma briga feia com minha família. Nunca imaginei que chegaria tão longe, que a pista lá embaixo não me causava tanto medo quanto o que eu estava sentindo, estando em cima do muro.
Ajeitei melhor a mochila nas costas e corri o mais rápido que pude, até sentir um puxão na sola do pé, que me fez parar e ver a nuvem gigantesca e arroxeada sobre mim. Eu passaria aquela noite com Bob, e eu sabia que a noite seria longa, e muito barra-pesada, eu não dormiria.
Na geladeira não tinha nada. A casa estava bagunçada e suja, muito cigarro, muita bebida, e Bob ocupado para mim, ele tocava com os amigos. Fiquei de lado.
Ele tocava bem, cabelo bagunçado, fumaça saindo da boca, camisa preta, bota nos pés, unhas sujas e dedos grossos. Como minha mãe o odiava.
Primeira vez que bebia, era ruim, Bob me disse que passaria meu medo, me acalmaria. Não fez nenhuma diferença, me senti até mais desperta. Me sentia péssima.
Bob não mandou os amigos irem embora, não saiu de perto deles, acho até que riu mais alto, invento músicas, contou piadas, deu os seus últimos trocados por mais bebida. Ele não queria me consolar, não queria ficar perto de mim. Como ele gostava de me maltratar.
Mas até os seus amigos conheciam o limite. Se cansaram e foram embora, Bob não gostou, me olhou com raiva, ou pior, não me olhou, estava com muita raiva.
Me levantei, me aproximei, ele me afastou, tossiu, pegou um cigarro, ascendeu o cigarro, soltou a fumaça e bebeu uma cerveja. Me mandou tomar banho, ele já queria ir dormir.
Lavei o cabelo, desembaracei enquanto tomava banho mesmo. Olhei para baixo, não sabia como ele me queria, eu não sabia como me raspar sem me cortar, mais fácil foi escovar os dentes. Como eu era desinformada.
Bob fumava outro cigarro agora, lia um papel na cama, virou os olhos para mim e me olhou como se olhasse para a parede, voltou a ler. Fumou o seu cigarro, dobrou seu papel, se espreguiçou, sorriu para mim e me chamou para perto. Ele cheirava a erva.
Ele me deitou, se sentou de pernas cruzadas ao meu lado e me olhou, parecia o Buda, só que um Buda de cabelo sujo. Pela primeira vez ri, Bob não precisava se esforçar muito, para conseguir isso de mim.
Desatou a toalha que me cobria, fez como se abrisse o seu mais esperado presente na manhã de Natal. Nunca me senti tão aflita, e se ele não gostasse?
Você é linda” Foi o que quis escutar. Mas recebi um “Peitões” acompanhado de uma boca curvada, aprovando com direito a uma cabeça inclinada no final. Bob poderia se esforçar mais, ele poderia me dizer coisas tão bonitas, mas o seu “Gostosa” foi melhor aceito, no final. Mas mesmo assim machucavam meus ouvidos.
Passou à mão em mim, olhando meu rosto, ele gostava de me ouvir implorar. Apertou os meus peitos e brinco com seus dedos entre as minhas pernas, arrastou por muito tempo seus lábios por minha barriga, me arrepiando, eu delirava.
Bob sabia que nunca tinha feito nada, pelo meu jeito ele sabia. Mas o Bob que eu conhecia não era bom, não era legal. Aquilo para ele era uma brincadeira, e ele jogava bastante comigo, mas ele não estava me satisfazendo, ele estava se martirizando, aquilo o excitava, ele era mal. Como Bob conseguia ser tão perverso? Ele era sádico.
Ele abriu a calça, puxou a cueca para frente e mandou que eu o tocasse. Senti medo de o machucar, mas ele repetia e repetia que aquilo não doía, que a cada aperto meu, ele me queria mais e mais. Então porque eu não acreditava? Me senti tão idiota por não saber como saciar um homem. Bob era um homem.
Pirracenta” Ele me dizia toda hora, mexendo com minha mão em seu prazer alucinado. Mas eu não estava pirraçando, queria fazer tudo certo, não queria deixa ele apenas na mão.
Ele segurou um dos meus seios, e me senti orgulhosa pela primeira vez de mim mesma. O meu corpo tinha poder sobre ele, então não era tão inocente assim, fechei os olhos e me mexi chamando o seu nome. Não fazia ideia do que fazia, mas Bob não esperou muito para responder ao meu chamado. Sua resposta doeu, ardeu, e me machucou, muito e pouco, tudo ao mesmo tempo.
Bob não parou, até se sentir saciado, caiu sobre mim, ajeitando sua cabeça sobre os meus seios, com uma das mãos neles, em silêncio apertava o bico do meu peito esquerdo.
“Amanhã temos que acordar cedo.”
Imaginei que eu não chegaria a dormir, para poder acordar. Eu era uma criança, e nada daquilo era para mim, não naquele momento. Mas eu estava com Bob, e mesmo ele me machucando, era para ele que eu corria.
Ele se roçou em mim mais uma vez e eu me preparei para uma longa noite ao lado de Bob.
Escovei os dentes, aquilo me fez sentir mais a vontade, poderia sim chamar aquela casa de lar. Não tomamos café da manhã, Bob não escovou os dentes, não fez nada além de acender seu primeiro cigarro do dia. Mexeu nos bolsos e me chamou para fora da casa.
“Vamos ter que conseguir uma grana. Ali naquela casa tem umas jóias e talvez a gente ache até uns dólares, coisa de sorte mesmo. Você vai ficar aqui até eu te chamar daquela porta, ali no fundo. Vai ser uma coisa rápida, a gente pega e vaza, entendeu? Vou entrar.”
Bob estava assaltando uma casa? Eu concordei com ele, não poderia dá no pé naquele momento. Bob precisava de mim.
Depois de cinco minutos ele assobio da porta que tinha me dito e eu entrei correndo. Na cozinha encontrei duas mulheres deitadas no chão, um cara sangrando próximo ao armário e Bob vindo na minha direção com dois sacos, me entregou um balde preto, com mais sacos. Olhei novamente para o homem, ele se mexeu, me olhou, Bob olhou para ele e ele escondeu o rosto entre os braços.
“Anda! Saí daqui! Te encontro em dois minutos.”
Bob me empurrou, e me toquei do que aquilo se tratava. Bob não estava assaltando uma casa eu é que estava roubando friamente aquelas pessoas. Entrei no carro, coloquei os sacos no banco de trás e escutei quatro disparos, vi Bob saindo da casa, vi Bob entrando no carro, vi Bob sujo de sangue.


Bob pediu que eu o seguisse, até chegarmos em um quarto. Ele olhou através da janela e ficou vendo alguma coisa lá embaixo, lá em cima, lá longe, depois virou seu rosto para mim.
Eu não sabia bem ao certo se eu iria embora, e mesmo se o fizesse, se acharia um homem como Bob, que me fazia sentir aquele prazer.
Ele não falava nada, e já tinha parado de me olhar há muito tempo.
Aquele silêncio era um sinal, e era possível fazer meu corpo sentir o que viria. Mas eu estava naquele momento em que temos muitas respostas, mas não sabemos bem ao certo qual pergunta fazer.
Bob fechou os olhos e segurou com força algo dentro de seu casaco. Eu sabia o que era.
Bob me deu tempo para correr, e na minha cabeça me vi correndo, pulando os degraus, abrindo com as duas mãos a porta e fugindo para longe.
Bob tirou sua arma do bolso. Era preta e grande. Bob não aceitaria ter uma diferente. Como Bob era convencido até em seu lado mais obscuro.
Bob apontou a arma para mim. Eu não chorava, ele me mataria e eu não duvidei. Como eu poderia ser feliz sem saber para onde ir? Ir para longe de Bob.

Bob disparou, eu me inclinei para o lado, à bala atingiu meu quadril. Bob atirou novamente, e mais uma vez. Caí para trás, com as pernas tortas sob mim, essa tinha atingido meu peito, meu rosto. E como pôde passar pela minha mente fugir dele?
Eu já tinha ido embora há muito. Aquela corrida Bob tinha perdido, eu já estava longe, com seu casaco de lã e seus trocados, sobre a maior ponte do mundo, vendo todos os carros passar e tendo a maior nuvem arroxeada do céu, sobre mim.
Aquela noite eu passaria sozinha, dormiria muito, e continuaria inocente.
Bob se sentou do meu lado, com suas pernas cruzadas. Tirou a minha mão da garganta, segurou os meus dedos e me disse assim.

"Você ainda gosta de mim?"

Foi difícil entender. Mas já era tarde. Aquele homem tinha me roubado com sua dúvida. O amor deveria escorrer com o sangue, mas eu... Ah Bob! Eu ainda o amava...

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